O 1º CULTO PROTESTANTE NO BRASIL.

[vc_row][vc_column][mk_image src=”http://presbiteriana.com/wp-content/uploads/2018/03/big_813cae22d761dc67282da90be196faeb.jpg” image_width=”300″ image_height=”300″ crop=”false” lightbox=”true” align=”center”][vc_column_text]

Cabe aos presbiterianos a honra de terem realizado o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas. Esse evento singular ocorreu em uma pequena colônia fundada pelos franceses na baía de Guanabara/RJ. Este culto foi realizado no dia 10/03/1557, por calvinistas franceses, então chamados de huguenotes.

1. O Contexto Histórico.

O Brasil era colônia portuguesa em regime de “Padroado”. O historiador presbiteriano, Dr. Alderi Matos, define o padroado como sendo “uma concessão feita pela Igreja Católica a determinados governantes civis, oferecendo-lhes certo controle sobre a igreja em seus respectivos territórios como um reconhecimento por serviços prestados à causa católica e um incentivo a futuras ações em benefício da igreja”.

Em 1493, o Papa Alexandre VI redigiu um documento declarando a supremacia espanhola sobre as terras descobertas. Em 1494, o Tratado de Tordesilhas determinou o que seria da Espanha e o que seria de Portugal nas novas descobertas. Em 1549, chegaram os primeiros seis jesuítas ao Brasil (a Companhia de Jesus foi organizada 9 anos antes, em 1540). Em 1553, chega o mais famoso dos jesuítas, José de Anchieta.

Em 1555, sob a liderança de Nicolas Durand de Villegaignon, um grupo de seiscentos franceses fundaram o Forte Coligny na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, dando origem à “França Antártica”, ficando assim conhecida como “A Invasão Francesa”.

2. A Chegada dos Protestantes.

A situação dos huguenotes não estava nada favorável na França. No final de 1555, sob a liderança de Nicolas Durand de Villegaignon, os franceses chegaram com 400 homens à Ilha Serigipe ( hoje Villegaignon) na Baía da Guanabara. Em março de 1557 a colonia foi reforçada por mais 280 pessoas. Entre elas estavam 12 calvinistas de Genebra que traziam credenciais do próprio Calvino.

Villegaignon solicitou a João Calvino o envio de pastores. João Calvino e seus colegas alegremente escolheram para acompanhar os colonos os pastores Pierre Richier (50 anos) e Guillaume Chartier (30 anos). Os seus objetivos específicos eram implantar a fé reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas. Em 07/03/1557, chegaram então os dois pastores enviados pela igreja de Genebra, um grupo de huguenotes (protestantes franceses) e refugiados vindos de Genebra, numa segunda expedição.

Pierre Richier e Guillaume Chartier, pastores ordenados, celebraram o primeiro culto protestante em terras brasileiras, talvez, nas Américas, no dia 10 de março de 1557. O pregador baseou-se no Salmo 27.4: “Ao Senhor Eterno peço somente uma coisa: que Ele me deixe viver na sua casa todos os dias da minha vida, para sentir a sua bondade e pedir a sua orientação”.

Primeiramente, o Rev. Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”. Esse hino constava do Saltério Huguenote, com metrificação de Clement Marot e melodia de Louis Bourgeois, e até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor de música da Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século 16. A versão mais conhecida em português (“À minha voz, ó Deus, atende”) tem música de Claude Goudimel (†1572) e metrificação do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho.

Após o culto, os huguenotes tiveram sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. Dormiram em redes, à maneira indígena.

Em 21/03/1557 ocorreu a primeira celebração da Santa Ceia em rito Genebrino.

3. Desfecho Trágico.

O desfecho da primeira presença protestante mais articulada foi trágica. O “ex-fradeJean Cointac levantou questões sobre o sacrifício da missa, a doutrina e usos dos sacramentos, a invocação e mediação dos santos, a oração pelos mortos, o purgatório e muitas outras que fizeram com que Villegaignon mudasse a sua atitude em relação aos calvinistas e passasse a perseguir os huguenotes. Esses últimos buscaram refúgio entre os índios tupinambás. Tentaram fugir por navio, mas esse afundou. Cinco são presos e intimados por Villegaignon a se posicionar em relação a pontos teológicos controvertidos. O documento redigido ficou conhecido como “Confessio Fluminense” (primeira confissão de fé evangélica brasileira no dia 8 de fevereiro de 1558).

O almirante declarou heréticos vários artigos e decidiu pela morte dos reformados. No dia seguinte foram executados três signatários – Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil e Pierre Bourdon. Eles ficaram conhecidos como os três primeiros mártires evangélicos do Brasil. Um dos signatários, André Lafon, foi poupado por ser o único alfaiate da colonia e o quinto, Jacques le Balleur conseguiu fugir para São Vicente/SP, mas foi preso e depois enforcado.

Essa efêmera presença calvinista no início da história do Brasil não produziu efeitos permanentes. Não foi possível aos reformados alcançar seus dois intentos principais: criar uma igreja reformada e evangelizar os nativos. Todavia, esse episódio é considerado um marco significativo na história das missões cristãs, pois foi a primeira vez que os protestantes buscaram anunciar a sua fé a um povo pagão. O fruto mais duradouro do singelo empreendimento foi a bela confissão de fé selada com sangue.

4. Confissão de Fé de Guanabara.

O documento em anexo é um testemunho fiel das Sagradas Escrituras. É uma prova do preparo e do conhecimento profundo que os primeiros protestantes no Brasil detinham. A “Confissão de Fé de Guanabara” é a profissão de fé desses irmãos protestantes, obrigados por Villegaignon, escrita no prazo de doze horas, respondendo à várias perguntas formuladas maliciosamente. Mais do que sua confissão de fé, os primeiros protestantes no Brasil estavam assinando a própria sentença de morte diante do ‘desconvertido’ Villegaignon.

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CONFISSÃO DE FÉ DE GUANABARA
Jean de Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon e André la Fon

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Segundo a doutrina de S. Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar razão da esperança que neles há, e isso com toda a doçura e benignidade, nós abaixo assinados, Senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos tem concedido) damos razão, a cada ponto, como nos haveis apontado e ordenado, e começando no primeiro artigo:

I. Cremos em um só Deus, imortal, invisível, criador do céu e da terra, e de todas as coisas, tanto visíveis como invisíveis, o qual é distinto em três pessoas: o Pai, o Filho e o Santo Espírito, que não constituem senão uma mesma substância em essência eterna e uma mesma vontade; o Pai, fonte e começo de todo o bem; o Filho, eternamente gerado do Pai, o qual, cumprida a plenitude do tempo, se manifestou em carne ao mundo, sendo concebido do Santo Espírito, nasceu da virgem Maria, feito sob a lei para resgatar os que sob ela estavam, a fim de que recebêssemos a adoção de próprios filhos; o Santo Espírito, procedente do Pai e do Filho, mestre de toda a verdade, falando pela boca dos profetas, sugerindo as coisas que foram ditas por nosso Senhor Jesus Cristo aos apóstolos. Este é o único Consolador em aflição, dando constância e perseverança em todo bem.

Cremos que é mister somente adorar e perfeitamente amar, rogar e invocar a majestade de Deus em fé ou particularmente.

II. Adorando nosso Senhor Jesus Cristo, não separamos uma natureza da outra, confessando as duas naturezas, a saber, divina e humana nele inseparáveis.

III. Cremos, quanto ao Filho de Deus e ao Santo Espírito, o que a Palavra de Deus e a doutrina apostólica, e o símbolo,[1][3] nos ensinam.

IV. Cremos que nosso Senhor Jesus Cristo virá julgar os vivos e os mortos, em forma visível e humana como subiu ao céu, executando tal juízo na forma em que nos predisse no capítulo vinte e cinco de Mateus, tendo todo o poder de julgar, a Ele dado pelo Pai, sendo homem. E, quanto ao que dizemos em nossas orações, que o Pai aparecerá enfim na pessoa do Filho, entendemos por isso que o poder do Pai, dado ao Filho, será manifestado no dito juízo, não todavia que queiramos confundir as pessoas, sabendo que elas são realmente distintas uma da outra.

V. Cremos que no santíssimo sacramento da ceia, com as figuras corporais do pão e do vinho, as almas fiéis são realmente e de fato alimentadas com a própria substância do nosso Senhor Jesus, como nossos corpos são alimentados de alimentos, e assim não entendemos dizer que o pão e o vinho sejam transformados ou transubstanciados no seu corpo, porque o pão continua em sua natureza e substância, semelhantemente ao vinho, e não há mudança ou alteração. Distinguimos todavia este pão e vinho do outro pão que é dedicado ao uso comum, sendo que este nos é um sinal sacramental, sob o qual a verdade é infalivelmente recebida. Ora, esta recepção não se faz senão por meio da fé e nela não convém imaginar nada de carnal, nem preparar os dentes para comer, como santo Agostinho nos ensina, dizendo: “Porque preparas tu os dentes e o ventre? Crê, e tu o comeste.” O sinal, pois, nem nos dá a verdade, nem a coisa significada; mas Nosso Senhor Jesus Cristo, por seu poder, virtude e bondade, alimenta e preserva nossas almas, e as faz participantes da sua carne, e de seu sangue, e de todos os seus benefícios.
Vejamos a interpretação das palavras de Jesus Cristo: “Este pão é meu corpo.” Tertuliano, no livro quarto contra Marcião, explica estas palavras assim: “este é o sinal e a figura do meu corpo.” S. Agostinho diz: “O Senhor não evitou dizer: — Este é o meu corpo, quando dava apenas o sinal de seu corpo.” Portanto (como é ordenado no primeiro cânon do Concílio de Nicéia), neste santo sacramento não devemos imaginar nada de carnal e nem nos distrair no pão e no vinho, que nos são neles propostos por sinais, mas levantar nossos espíritos ao céu para contemplar pela fé o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus, sentado à destra de Deus, seu Pai.  Neste sentido podíamos jurar o artigo da Ascensão, com muitas outras sentenças de Santo Agostinho, que omitimos, temendo ser longas.

VI. Cremos que, se fosse necessário pôr água no vinho, os evangelistas e São Paulo não teriam omitido uma coisa de tão grande conseqüência.  E quanto ao que os doutores antigos têm observado (fundamentando-se sobre o sangue misturado com água que saiu do lado de Jesus Cristo, desde que tal observância não tem fundamento na Palavra de Deus, visto mesmo que depois da instituição da Santa Ceia isso aconteceu), nós não podemos hoje admitir necessariamente.

VII. Cremos que não há outra consagração senão a que se faz pelo ministro, quando se celebra a ceia, recitando o ministro ao povo, em linguagem conhecida, a instituição desta ceia literalmente, segundo a forma que nosso Senhor Jesus Cristo nos prescreveu, admoestando o povo quanto à morte e paixão do nosso Senhor. E mesmo, como diz santo Agostinho, a consagração é a palavra de fé que é pregada e recebida em fé. Pelo que, segue-se que as palavras secretamente pronunciadas sobre os sinais não podem ser a consagração como aparece da instituição que nosso Senhor Jesus Cristo deixou aos seus apóstolos, dirigindo suas palavras aos seus discípulos presentes, aos quais ordenou tomar e comer.

VIII. O santo sacramento da ceia não é alimento para o corpo como para as almas (porque nós não imaginamos nada de carnal, como declaramos no artigo quinto) recebendo-o por fé, a qual não é carnal.

IX. Cremos que o batismo é sacramento de penitência, e como uma entrada na igreja de Deus, para sermos incorporados em Jesus Cristo. Representa-nos a remissão de nossos pecados passados e futuros, a qual é adquirida plenamente, só pela morte de nosso Senhor Jesus. De mais, a mortificação de nossa carne aí nos é representada, e a lavagem, representada pela água lançada sobre a criança, é sinal e selo do sangue de nosso Senhor Jesus, que é a verdadeira purificação de nossas almas. A sua instituição nos é ensinada na Palavra de Deus, a qual os santos apóstolos observaram, usando de água em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito. Quanto aos exorcismos, abjurações de Satanás, crisma, saliva e sal, nós os registramos como tradições dos homens, contentando-nos só com a forma e instituição deixada por nosso Senhor Jesus.

X. Quanto ao livre arbítrio, cremos que, se o primeiro homem, criado à imagem de Deus, teve liberdade e vontade, tanto para bem como para mal, só ele conheceu o que era livre arbítrio, estando em sua integridade. Ora, ele nem apenas guardou este dom de Deus, assim como dele foi privado por seu pecado, e todos os que descendem dele, de sorte que nenhum da semente de Adão tem uma centelha do bem.  Por esta causa, diz São Paulo, o homem natural não entende as coisas que são de Deus. E Oséias clama aos filho de Israel: “Tua perdição é de ti, ó Israel.” Ora isto entendemos do homem que não é regenerado pelo Santo Espírito. Quanto ao homem cristão, batizado no sangue de Jesus Cristo, o qual caminha em novidade de vida, nosso Senhor Jesus Cristo restitui nele o livre arbítrio, e reforma a vontade para todas as boas obras, não todavia em perfeição, porque a execução de boa vontade não está em seu poder, mas vem de Deus, como amplamente este santo apóstolo declara, no sétimo capítulo aos Romanos, dizendo: “Tenho o querer, mas em mim não acho o realizar.” O homem predestinado para a vida eterna, embora peque por fragilidade humana, todavia não pode cair em impenitência. A este propósito, S. João diz que ele não peca, porque a eleição permanece nele.

XI. Cremos que pertence só à Palavra de Deus perdoar os pecados, da qual, como diz santo Ambrósio, o homem é apenas o ministro; portanto, se ele condena ou absolve, não é ele, mas a Palavra de Deus que ele anuncia.
Santo Agostinho, neste lugar diz que não é pelo mérito dos homens que os pecados são perdoados, mas pela virtude do Santo Espírito. Porque o Senhor dissera aos seus apóstolos: “recebei o Santo Espírito;” depois acrescenta: “Se perdoardes a alguém os seus pecados,” etc. Cipriano diz que o servo não pode perdoar a ofensa contra o Senhor.

XII. Quanto à imposição das mãos, essa serviu em seu tempo, e não há necessidade de conservá-la agora, porque pela imposição das mãos não se pode dar o Santo Espírito, porquanto isto só a Deus pertence. No tocante à ordem eclesiástica, cremos no que S. Paulo dela escreveu na primeira epístola a Timóteo, e em outros lugares.

XIII. A separação entre o homem e a mulher legitimamente unidos por casamento não se pode fazer senão por causa de adultério, como nosso Senhor ensina (Mateus 19:5). E não somente se pode fazer a separação por essa causa, mas também, bem examinada a causa perante o magistrado, a parte não culpada, se não podendo conter-se, deve casar-se, como São Ambrósio diz sobre o capítulo sete da Primeira Epístola aos Coríntios. O magistrado, todavia, deve nisso proceder com madureza de conselho.

XIV. São Paulo, ensinando que o bispo deve ser marido de uma só mulher, não diz que não lhe seja lícito tornar a casar, mas o santo apóstolo condena a bigamia a que os homens daqueles tempos eram muito afeitos; todavia, nisso deixamos o julgamento aos mais versados nas Santas Escrituras, não se fundando a nossa fé sobre esse ponto.

XV. Não é lícito votar a Deus, senão o que ele aprova. Ora, é assim que os votos monásticos só tendem à corrupção do verdadeiro serviço de Deus. É também grande temeridade e presunção do homem fazer votos além da medida de sua vocação, visto que a santa Escritura nos ensina que a continência é um dom especial (Mateus 15 e 1 Coríntios 7). Portanto, segue-se que os que se impõem esta necessidade, renunciando ao matrimônio toda a sua vida, não podem ser desculpados de extrema temeridade e confiança excessiva e insolente em si mesmos. E por este meio tentam a Deus, visto que o dom da continência é em alguns apenas temporal, e o que o teve por algum tempo não o terá pelo resto da vida. Por isso, pois, os monges, padres e outros tais que se obrigam e prometem viver em castidade, tentam contra Deus, por isso que não está neles o cumprir o que prometem. São Cipriano, no capítulo onze, diz assim: “Se as virgens se dedicam de boa vontade a Cristo, perseverem em castidade sem defeito; sendo assim fortes e constantes, esperem o galardão preparado para a sua virgindade; se não querem ou não podem perseverar nos votos, é melhor que se casem do que serem precipitadas no fogo da lascívia por seus prazeres e delícias.” Quanto à passagem do apóstolo S. Paulo, é verdade que as viúvas tomadas para servir à igreja, se submetiam a não mais casar, enquanto estivessem sujeitas ao dito cargo, não que por isso se lhes reputasse ou atribuísse alguma santidade, mas porque não podiam bem desempenhar os deveres, sendo casadas; e, querendo casar, renunciassem à vocação para a qual Deus as tinha chamado, contudo que cumprissem as promessas feitas na igreja, sem violar a promessa feita no batismo, na qual está contido este ponto: “Que cada um deve servir a Deus na vocação em que foi chamado.” As viúvas, pois, não faziam voto de continência, senão porque o casamento não convinha ao ofício para que se apresentavam, e não tinha outra consideração que cumpri-lo. Não eram tão constrangidas que não lhes fosse antes permitido casar que se abrasar e cair em alguma infâmia ou desonestidade. Mas, para evitar tal inconveniência, o apóstolo São Paulo, no capítulo citado, proíbe que sejam recebidas para fazer tais votos sem que tenham a idade de sessenta anos, que é uma idade normalmente fora da incontinência. Acrescenta que os eleitos só devem ter sido casados uma vez, a fim de que por essa forma, tenham já uma aprovação de continência.

XVI. Cremos que Jesus Cristo é o nosso único Mediador, intercessor e advogado, pelo qual temos acesso ao Pai, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por ele já reconciliados teremos plena vitória contra a morte. Quanto aos santos mortos, dizemos que desejam a nossa salvação e o cumprimento do Reino de Deus, e que o número dos eleitos se complete; todavia, não nos devemos dirigir a eles como intercessores para obterem alguma coisa, porque desobedeceríamos o mandamento de Deus. Quanto a nós, ainda vivos, enquanto estamos unidos como membros de um corpo, devemos orar uns pelos outros, como nos ensinam muitas passagens das Santas Escrituras.

XVII. Quanto aos mortos, São Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, no capítulo quatro, nos proíbe entristecer-nos por eles, porque isto convém aos pagãos, que não têm esperança alguma de ressuscitar. O apóstolo não manda e nem ensina orar por eles, o que não teria esquecido se fosse conveniente. S. Agostinho, sobre o Salmo 48, diz que os espíritos dos mortos recebem conforme o que tiverem feito durante a vida; que se nada fizeram, estando vivos, nada recebem, estando mortos.

Esta é a resposta que damos aos artigo por vós enviados, segundo a medida e porção da fé, que Deus nos deu, suplicando que lhe praza fazer que em nós não seja morta, antes produza frutos dignos de seus filhos, e assim, fazendo-nos crescer e perseverar nela, lhe rendamos graças e louvores para sempre. Assim seja.

Jean du Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André la Fon.

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Fontes:

1. Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper

2. Portal Luteranos

3. Site do Rev. Ângelo Vieira da Silva (Ministro Presbiteriano)[/vc_column_text][vc_facebook type=”button_count”][vc_tweetmeme][vc_googleplus][/vc_column][/vc_row]

A Academia de Genebra

“Além de tudo mais, se não tivermos a nossa vocação como uma regra permanente, não poderá haver clara consonância e correspondência entre as diversas partes da nossa vida. Assim, será muito bem ordenada e dirigida a vida de quem a conduzir tendo em vista esse propósito. Desse modo de entender e de agir nos resultará esta singular consolação: Não há obra, por mais humilde e humilhante que seja, que não brilhe diante de Deus e que não lhe seja preciosa, contanto que a realizemos no serviço e cumprimento da nossa vocação” – João Calvino (1).

“O profeta nos ensina que é nosso penhorado dever usar nosso empenho para que haja sucessão contínua de pessoas que comuniquem a instrução da verdade divina” – João Calvino (2).

João Calvino (1509-1564) que estudara nos Collège de la Marche (3), Collège de Montaigu (4), Universidade de Orléans e Universidade de Bourges, tendo como mestres alguns dos grandes professores de sua época (5), conhecia bem a dureza (Montaigu), estrutura e rotina universitárias. Antes de ser um teólogo ele fora um humanista (6). A sua filosofia de ensino reflete a sua apurada formação e maturidade intelectual (7) dentro de um referencial que partia das Escrituras, tendo a soberania de Deus como princípio orientador, e a glória de Deus como fim de todas as coisas, inclusive de nosso saber (8).

1. Os Primórdios.

Já na sua primeira permanência em Genebra (1536-1538), insistiu junto aos conselhos para melhorar as próprias condições do ensino, bem como os recursos das escolas. Ele apresentou ao conselho municipal um projeto educacional (1536) gratuito que se destinava a todas as crianças, meninos e meninas (9), tendo um grande apoio público. Desta proposta surgiu o Collège de Rive. Temos aqui o surgimento da primeira escola primária, gratuita e obrigatória de toda a Europa (10): “Popular, gratuita e obrigatória” (11). No entanto o Collège de Rive encerrou suas atividades durante o período de Calvino em Estrasburgo (1538-1541), sendo reativado com a sua volta definitiva para Genebra (1541) (12).

2. A Academia: Origem Modesta.

A partir de 1541, com todas as lutas que enfrentou em Genebra, pôde, contudo, reestruturar o sistema educacional desta cidade. Visto que o Estado estava empobrecido, apelou para doações e legados (13). Fiel ao seu princípio de que “… as escolas teológicas (são) berçários de pastores” (14), Calvino, que havia trabalhado com Johannes Sturm (1507-1589) em Estrasburgo (15)(1538-1541),  criou uma academia em Genebra (16) (Schola Privata (17) e a Schola Publica), sendo em 5/6/1559 o culto inaugural no templo de Saint-Pierre (18). Como diz Compayré, a academia teve uma origem modesta (19). Calvino, no entanto, esforçou-se por constituir um corpo docente competente (20) e foi ajudado neste propósito por um incidente político. Alguns ministros de Lausanne, que em 1558 haviam protestado contra a proposição de Berna a respeito da autoridade secular, foram depostos em janeiro de 1559, vindo para Genebra (21). No entanto, a academia no seu início teve apenas cinco professores: João Calvino e Theodore Beza (1519-1605) que revezavam no ensino de Teologia; Antoine-Raoul Chevalier ou Le Chevalier (1507-1572), professor de hebraico, François Bérauld, professor de grego e Jean Tagaut († 1560), professor de artes (filosofia) (22).

A base da formação educacional em Genebra era a Bíblia. Competia à família (23) (apesar de suas limitações iniciais), e ao Estado o cuidado com a educação. No entanto, a igreja tinha um papel especialíssimo. “Por essa razão, os ministros da Palavra assumiriam a tarefa da educação nas escolas elementares e nos colégios de Genebra” (24).

A academia (Schola Privata (25) e a Schola Publica) iniciou com 600 alunos, aumentando já no primeiro ano para 900 (26) — a quem coube a educação dos protestantes da língua francesa, atingindo, em sua maioria, alunos estrangeiros vindos da França, Holanda, Inglaterra, da Alemanha, da Itália e de outras cidades da Suíça (27). Calvino não concebia a academia distante da igreja, antes, sustentava dois princípios fundamentais: a unidade da academia bem como sua união íntima com a Igreja (28). Com este propósito, todos os professores estavam sob a jurisdição disciplinar da igreja devendo subscrever a confissão de fé adotada (29).

A instituição estava dividida em duas partes principais: A Schola Privata, que dividida em sete séries equivalia ao colégio (gymnasium) e destinava-se aos jovens de até 16 anos, e a Schola Publica ou Academia, que continuava o colégio, ministrando ensino superior (30). O currículo incluía disciplinas tais como: teologia, hebraico, grego, filosofia, matemática e retórica. Entre outros, eram estudados autores gregos e latinos, como: Heródoto, Xenofonte, Homero, Demóstenes, Plutarco, Platão, Cícero, Virgílio e Ovídio (31). Nas Institutas escreveu: “Admito que a leitura de Demóstenes ou Cícero, de Platão ou Aristóteles, ou de qualquer outro da classe deles, nos atrai maravilhosamente, nos deleita e nos comove ao ponto de nos arrebatar” (32).

Com o estabelecimento da academia, o historiador Charles Borgeaud (1861-1941), antigo professor da Universidade de Genebra, disse que “Esta foi a primeira fortaleza da liberdade nos tempos modernos” (33).

3. Escola Missionária.

Genebra se tornaria também um grande centro missionário, uma verdadeira “escola de missões”. Os foragidos que lá se instalaram, puderam, posteriormente, levar para os seus países e cidades o Evangelho ali aprendido (34). “O estabelecimento da academia foi em parte realizado por causa do desejo de suprir e treinar missionários evangélicos”, informa-nos Mackinnon (35). Destacamos que, com exceção de Isaías, todos os comentários de Calvino sobre os profetas “consistem em sermões direcionados a alunos em treinamento para o trabalho missionário, principalmente na França” (36).

Acontece que o envio de missionários para outras cidades e países era uma questão delicada para a qual a Companhia de Pastores manteve, enquanto pôde, sigilo absoluto até mesmo do Conselho Municipal (37).Os nomes dos missionários eram em geral mantidos em sigilo. A primeira vez (38) que tais nomes são mencionados na Companhia de Pastores de Genebra foi em 22 de abril de 1555, Jehan Vernoul e Jehan Lauvergeat, enviados para as igrejas dos vales de Piemonte e Jacques Langlois Tours, Lausanne e Lyon, onde seria martirizado em 1572 (39).

Outro exemplo: o envio de dois ministros para a missão no Brasil, em resposta ao apelo de Villegagnon (40),é descrita de forma sumaríssima. O registro simplesmente menciona (25/08/1556) que Pierre Richier († 1580) (41) e M. Guillaume Charretier (Chartier) (42) foram enviados (43). A própria correspondência que vinha dos franceses no Brasil para Calvino, recorria a algum de seus pseudônimos (44).

4. Missão Como Vocação.

A proclamação do Evangelho objetiva glorificar a Deus: “O nome de Deus nunca é melhor celebrado do que quando a verdadeira religião é extensamente propagada e quando a Igreja cresce, a qual por essa conta é chamada ‘plantações do Senhor, para que ele seja glorificado’ [Is 61.3]”(45).

Este objetivo da academia faz jus à compreensão missionária de Calvino. Considerando que o reino de Deus envolve todos os povos — Jesus Cristo não foi enviado apenas aos judeus (46) —, a mensagem do Evangelho deve ser anunciada a todos. Comentando 1Timóteo 2.4, Calvino afirma: “… nenhuma nação da terra e nenhuma classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o Evangelho a todos sem exceção” (47). À frente: “Aqueles que se encontram sob o governo do mesmo Deus não são excluídos para sempre da esperança de salvação” (48). Por isso, “O Senhor ordena aos ministros do Evangelho (que preguem) em lugares distantes, com o propósito de espalhar a doutrina da salvação em cada parte do mundo” (49).

Analisando uma das implicações da petição “venha o Teu Reino”, comenta: “Portanto, nós oramos pedindo que venha o reino de Deus; quer dizer, que todos os dias e cada vez mais o Senhor aumente o número dos seus súditos e dos que nele creem…” (50).

Em outro lugar, acrescenta: “Não existe outra forma de edificar a igreja de Deus senão pela luz da Palavra, em que o próprio Deus, por sua própria voz, aponta o caminho da salvação. Até que a verdade brilhe, os homens não podem se unir juntos, na forma de uma verdadeira Igreja” (51).

Comentando o Salmo 96, Calvino sustenta que:

“… O salmista está exortando o mundo inteiro, e não apenas os israelitas, ao exercício da devoção. Isso não poderia ser efetuado, a menos que o evangelho fosse universalmente difundido como meio de comunicar conhecimento de Deus. (…) O salmista notifica, consequentemente, que o tempo viria quando Deus erigiria seu reino no mundo de uma maneira totalmente imprevista. Ele notifica ainda mais claramente como ele procede, ou seja: que todas as nações partilhariam do favor divino. Ele convoca a todos a anunciarem sua salvação e, desejando que a celebrassem dia após dia, insinua que ela não era de uma natureza transitória ou evanescente, mas que duraria para sempre” (52).

Devemos trabalhar com urgência dentro da esfera que nos foi confiada por Deus. O que não nos pertence deixemos onde está de modo firme e seguro: sob os cuidados de Deus. Portanto, “como nós não sabemos quem são os que pertencem ou deixam de pertencer ao número e companhia dos predestinados, devemos ter tal afeto, que desejemos que todos se salvem e assim, procuraremos fazer a todos aqueles que encontrarmos, sejam participantes de nossa paz (…). Quanto a nós concerne, deverá ser a todos aplicada, à semelhança de um remédio, salutar e severa correção, para que não pereçam eles próprios, ou a outros não percam. A Deus, porém, pertencerá fazê-la eficaz àqueles a quem preconheceu e predestinou” (53).

O nosso trabalho deve ser feito com total confiança em Deus, sabendo que cabe a ele converter o coração do homem, e que a rejeição do Evangelho neste momento não implica necessariamente na rejeição absoluta. Esta convicção nos estimula a trabalhar com fervor e alegre perseverança: “Visto que a conversão de uma pessoa está nas mãos de Deus, quem sabe se aqueles que hoje parecem empedernidos subitamente não sejam transformados pelo poder de Deus em pessoas diferentes? E assim, ao recordarmos que o arrependimento é dom e obra de Deus, acalentaremos esperança mais viva e, encorajados por essa certeza, aceleraremos nosso labor e cuidaremos da instrução dos rebeldes. Devemos encará-lo da seguinte forma: é nosso dever semear e regar e, enquanto o fazemos, devemos esperar que Deus dê o crescimento (1Co 3.6). Portanto, nossos esforços e labores são, por si sós, infrutíferos; e no entanto, pela graça de Deus, não são infrutíferos” (54). A nossa responsabilidade: “… é nosso dever proclamar a bondade de Deus a toda nação” (55).

Considerações Finais.

A academia tornou-se grandemente respeitada em toda a Europa; o grau concedido aos seus alunos era amplamente aceito e considerado em universidades de países protestantes como, por exemplo, na Holanda. O historiador católico Marc Venard, comenta que a academia “será daí em diante um viveiro de pastores para toda a Europa reformada” (56). A academia contribuiu em grandes proporções para fazer de Genebra “um dos faróis do Ocidente” admite Daniel-Rops (57). A formação dada em Genebra era intelectual e espiritual; os alunos participavam dos cultos das quartas-feiras bem como em todos os três cultos prestados a Deus no domingo (58). Um escritor referiu-se a Genebra deste modo: “Deus fez de Genebra sua Belém, isto é, sua casa do pão” (59).

Sem dúvida, entre os Reformadores, Calvino foi quem mais amplamente compreendeu a abrangência das implicações do Evangelho, nas diversas facetas da vida humana (60), entendendo que “o Evangelho não é uma doutrina de língua, senão de vida. Não pode assimilar-se somente por meio da razão e da memória, senão que chega a compreender-se de forma total quando ele possui toda a alma, e penetra no mais íntimo recesso do coração” (61). Por isso, ele exerceu poderosa influência sobre a Europa e Estados Unidos. Schaff chega dizer que Calvino “de certo modo, pode ser considerado o pai da Nova Inglaterra e da república Americana” (62).

Fonte: TeologiaBrasileira.com.br

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(1) João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. IV, (IV.17). p. 225.
(2) João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, Vol. 3 (Sl 78.6), p. 200.
(3) McGrath discute a possibilidade de esta interpretação tradicional ser equivocada. Em sua opinião, Calvino não estudou no Collège de la Marche (Ver: Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 37-43).
(4) As regras do Collège de Montaigu eram bastante rígidas e a alimentação precária. É famosa a descrição de Erasmo a respeito desta escola. Entre outros trabalhos, veja-se: D. Erasmus, The Colloquies of Erasmus, Chicago: The University of Chicago Press, 1965, p. 351-353. A partir daí: Roland H. Bainton,Erasmo da Cristandade, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (1988), p. 39ss.; Alister McGrath, A Vida de João Calvino, p. 44-45. Para um estudo detalhado de Montaigu, a obra clássica é: Marcel Godet, La Congrégation de Montaigu, Paris: Libraire Ancienne Honoré Champion, 1912, 220p.
(5) Ver: Hermisten M.P. Costa, Raízes da Teologia Contemporânea, São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 89-92
(6) Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, Genève: Georg & Cº, Libraires de L’Université, 1900, p. 21.
(7) Ford L. Battles, Interpreting John Calvin, Grand Rapids, Michigan: Baker Books, 1996, p. 47.
(8) “Não busquemos as cousas que são nossas, mas aquelas que não somente sejam da vontade do Senhor, como também contribuam para promover-lhe a glória” (João Calvino, As Institutas, III.7.2). “Não há glória real senão em Deus” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 1.17), p. 46). Veja-se o verbete “Glória”, In: Hermisten M.P. Costa, Calvino de A a Z, São Paulo: Vida, 2006, p. 138-140.
(9) Como curiosidade menciono que no Brasil, a primeira escola para moças foi aberta no Rio de Janeiro, capital no Império, em 1816. (Vejam-se: Laurence Hallewell, O Livro no Brasil: sua história, São Paulo: T.A. Queiroz/EDUSP, 1985, p. 87; Luiz Agassiz; Elizabeth C. Agassiz, Viagem ao Brasil: 1865-1866, Belo Horizonte: Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo, 1975, p. 292-293).
(10) John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, New York: Oxford University Press, 1954, p. 135. Inter alia: Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 16-18; Lorenzo Luzuriaga, História da Educação Pública, São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959, p. 1, 5-6; Elmer L. Towns, John Calvin. In: Elmer L. Towns, ed. A History of Religious Educators, Michigan: Baker Book House, 1985, p. 168-169; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 804.
(11) Eugène Choisy, L’ État Chrétien Calviniste: Genève au XVIme siècle. Genève: Librairie Georg & Cia, 1909, p. 9.
(12) Ford L. Battles, Interpreting John Calvin, p. 61-62; John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 192; Robert W. Pazmiño, Temas Fundamentais da Educação Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 149.
(13) Calvino pessoalmente chegou a sair pedindo donativos de casa em casa para a escola. Vejam-se: André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 192-193; Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 804-805; Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 88. Veja-se, também, L. Luzuriaga, História da Educação e da Pedagogia, 17ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1987, p. 108-116; Ruy A. C. Nunes, História da Educação no Renascimento, São Paulo: EPU/EDUSP, 1980, p. 97-102; T.R. Giles, História da Educação, São Paulo: EPU, 1987, p. 119-128; Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, Campinas, SP: Luz para o Caminho, 1985, p. 193,196.
(14) João Calvino, As Pastorais, (1Tm 3.1) p. 82. Schaff usa essa expressão referindo-se à academia de Genebra, um “berçário de pregadores evangélicos” (Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 820).
(15) Ver: W. Stanford Reid, Calvin and the Founding of the Academy of Geneva: In: Westminster Theological Journal, 18, (1955), p. 5. Em Estrasburgo, diferentemente de Genebra, a “escolarização era uma prioridade suprema” e “alguns dos maiores especialistas em educação daquele tempo estavam trabalhando ali” (Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 87). O próprio Johannes Strurm, que foi para Estrasburgo em 1536, criou e organizou o sistema educacional (junho de 1537), organizando o Ginásio de Estrasburgo, fundado em 22/03/1538, sendo o seu primeiro reitor e mantendo-se neste cargo por 43 anos. O seu lema era: “piedade sábia e eloquente” (sapiens atque eloquens pietas) (Cf. Ruy A. da Costa Nunes, História da Educação no Renascimento, p. 182. Ver também: W. Stanford Reid, Calvin and the Founding of the Academy of Geneva: In: Westminster Theological Journal, 18, (1955), p. 5).
(16) Aprovada a criação em 16/03/1559.
(17) Esta com 280 alunos (Cf. Diener-Wyss Apud Gabriele Greggersen, Perspectivas para a Educação Cristã em João Calvino. In: Fides Reformata, São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 7/2 (2002) 61-83, p. 69).
(18) Data da sessão solene de inauguração, presidida por Calvino (Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, Genève: Georg & Cº, Libraires de L’Université, 1900, p. 48). Na ocasião estavam presentes todo Conselho e os ministros. Calvino rogou a bênção de Deus sobre a academia, a qual estava sendo dedicada à ciência e religião. Michael Roset, o secretário de Estado, leu a Confissão de Fé o os estatutos da escola preparados por Calvino que regeriam a instituição (Leges academiae genevesis). Beza foi proclamado reitor, ministrando uma aula inaugural em latim. A reunião foi encerrada com uma breve palavra de Calvino dita em francês e oração pelo próprio (Cf. Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 48-49). John Knox (1515-1572), antigo aluno da academia, escreveria mais tarde a uma amiga (1556), dizendo ser a Igreja de Genebra “a mais perfeita escola de Cristo que jamais houve na terra desde os dias dos Apóstolos” (John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 178). Schaff observa que havia uma faculdade em Genebra, desde 1428, chamada “Faculdade Versonnex” (L’école de Versonnex), que se destinava à preparação de clérigos; no entanto, ela havia entrado em decadência, sendo reorganizada por Calvino em 1541. A instrução era gratuita (Veja-se: Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, Genève: Georg & Cº, Libraires de L’Université, 1900, p. 13-18). Ainda segundo Schaff, Calvino incentivou a educação fundando diversas escolas estrategicamente distribuídas na cidade. As taxas eram baixas até que foram abolidas (1571) conforme pedido de Beza. Ele desejava criar uma grande universidade, todavia, os recursos da República eram pequenos para isso, assim ele se limitou à academia. Contudo até para criar a academia ele teve de pedir donativos de casa em casa, conseguindo arrecadar a soma respeitável de 10,024 guilders de ouro. Também, diversos estrangeiros que ali residiam contribuíram generosamente, havendo também um genebrino, Bonivard, que doou toda a sua fortuna à instituição (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 804-805; Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 214).
(19) Gabriel Compayré, Histoire Critique des Doctrines de L’Éducation en France Depuis le Seizième Siècle, 2ª ed. Paris: Librairie Hachette Et Cie. 1880, Vol. I, p. 149.
(20) O Rev. Chamberlain, iniciador do que seria conhecida como Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1875 escreve à Board pleiteando a criação da Escola Normal com o objetivo de formar futuros professores. Argumenta “O problema mais difícil de solver na administração de um colégio (…)[é] (…) obter e conservar um corpo magistral que se dedique, com amor, ao ensino. A importância e proficuidade duma escola estão na razão direta do valor pessoal do professor. Tal mestre, tal escola. Nada valerão as escolas sem bons mestres; a personalidade do mestre como que passa para a escola e vê-se refletida em cada aluno como um semblante reproduzido em espelho facetado. Os mais belos programas e previdentes instruções se inutilizam e tornam-se ineficazes; os mais engenhosos métodos se desnaturam e viçosas esperanças se esvaecem, se o mestre for o que cumpre ser” (Apud Benedicto Novaes Garcez, O Mackenzie, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1970, p. 66-67. Veja-se, também: Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 241).
(21) Cf. John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 193; André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 192; Ford L. Battles, Interpreting John Calvin, Grand Rapids, Michigan: Baker Books, 1996, p. 62.
(22) Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 64-68; 638; Gabriel Compayré, Histoire Critique des Doctrines de L’Éducation en France Depuis le Seizième Siècle, Vol. I, p. 149; W. Stanford Reid, Calvin and the Founding of the Academy of Geneva: In: Westminster Theological Journal, 18, (1955), p. 10.
(23) Veja-se: Robert W. Pazmiño, Temas Fundamentais da Educação Cristã, p. 148-149.
(24) Heber Carlos de Campos, A “Filosofia Educacional” de Calvino e a Fundação da Academia de Genebra. In: Fides Reformata, 5/1 (2000) 41-56, p. 45.
(25) Esta com 280 alunos (Cf. Diener-Wyss Apud Gabriele Greggersen, Perspectivas para a Educação Cristã em João Calvino. In: Fides Reformata, 7/2 (2002) 61-83, p. 69).
(26) Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805. Em 1564 a Schola Privata contaria com cerca de 1200 alunos e a Schola Publica com aproximadamente 300 alunos (Cf. Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 196; A. Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 192; Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, São Paulo: Quadrante, 1996, p. 413; Gabriele Greggersen, Perspectivas para a Educação Cristã em João Calvino. In: Fides Reformata, 7/2 (2002) 61-83, p. 69.
(27) Genebra chegou a abrigar mais de 6 mil refugiados vindos da França, Itália, Inglaterra, Espanha e Holanda (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 802), aumentando este número com os estudantes que para lá se dirigiram com a fundação da academia de Genebra (1559). Lembremo-nos de que a população de Genebra era de 9 a 13 mil habitantes; 9 mil segundo Reid (W.S. Reid, A Propagação do Calvinismo no Século XVI: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e Sua Influência no Mundo Ocidental, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990, p. 52; 12 mil conforme McNeill (J.T. McNeill, Los Forjadores del Cristianismo, Buenos Aires: La Aurora/Casa Unida de Publicaciones, (1956), Vol. II, p. 211); 13 mil de acordo com Nichols (Robert H. Nichols, História da Igreja Cristã, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1978, p. 164); em torno de 10 mil (William G. Naphy, Calvin and the Consolidation of the Genevan Reformation, Louisville: Westminster John Knox Press, 2003, p. 21, 36). O fato é que em 1550 Genebra dispunha de 13.100 habitantes, saltando para 21.400 em 1560. Dez anos depois, em 1570, a população voltaria a 16.000. A casa dos 20 mil habitantes só seria ultrapassada em 1720, atingindo 20.800 (Cf. Alfred Perrenoud, La Population de de Genève du Seizième au Début Du Dix-Neuvième Siècle: Étude Démographique, Genève: Libraririe A. Jullien, 1979, Vol. 1, p. 37). Schaff apresenta dados mais específicos relativos a cada período: cerca de 12 mil habitantes no início do século XVI, aumentando para mais de 13 mil em 1543, tendo um surto de crescimento de 1543 a 1550, quando a população saltou para 20 mil (Philip Schaff, History of the Christian Church, VIII, p. 802). Segundo McGrath, em 1550 a população foi estimada em 13.100 habitantes. Em 1560 era de 21.400 habitantes. (Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 145). Biéler estima 10.300 habitantes em 1537, chegando a 13.000 em 1589 (André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 216, 220, 251 (nota 514)). Innes sugere: 11.500 (1532); 10.300 (1537), 15.000 em 1559 e 13.000 em 1589 (William C. Innes, Social Concern in Calvin’s Geneva, Pennsylvania: Pickwick Publications, 1983, p. 301).
(28) Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 79.
(29) Elmer L. Towns, John Calvin. In: Elmer L. Towns, ed. A History of Religious Educators, p. 170.
(30) Vejam-se: Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 88; Gerald L. Gutek, Historical and Philosophical Foundations of Education: A Biographical Introduction, 3ª ed, Columbus, Ohio: Merril Prentice Hall, 2001, p. 92; W. Stanford Reid, Calvin and the Founding of the Academy of Geneva: In: Westminster Theological Journal, 18, (1955), p. 11-17; Edson Pereira Lopes, O Conceito de Teologia e Pedagogia na Didática Magna de Comenius, São Paulo: Editora Mackenzie, 2003, p, 67-70; Heber Carlos de Campos, A “Filosofia Educacional” de Calvino e a Fundação da Academia de Genebra. In: Fides Reformata, 5/1 (2000) 41-56, p. 51-52.
(31) Vejam-se: Philip Schaff, History of the Christian Church, Vol. VIII, p. 805; Ronald S. Wallace, Calvino, Genebra e a Reforma, p. 88; Gerald L. Gutek, Historical and Philosophical Foundations of Education: A Biographical Introduction, 3ª ed, Columbus, Ohio: Merril Prentice Hall, 2001, p. 92.
(32) João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, Vol. I, I.24. p. 74. Ver também: Heber Carlos de Campos, A “Filosofia Educacional” de Calvino e a Fundação da Academia de Genebra. In: Fides Reformata, 5/1 (2000) 41-56, p. 51.
(33) Charles Borgeaud, Histoire l’Université de Genève, p. 83.
(34) Para mais detalhes, ver: Hermisten M.P. Costa, A Academia de Genebra e a Evangelização. In: Brasil Presbiteriano, São Paulo: Cultura Cristã, janeiro de 2009, p. 4-5.
(35) James MacKinnon, Calvin and the Reformation, Londres: Penguin Books, 1936, p. 195.
(36) T.H.L. Parker em Prefácio à Versão Inglesa do Comentário de Daniel (João Calvino, O Profeta Daniel: 1-6, São Paulo: Parakletos, 2000, Vol. 1, p. 13).
(37) Vejam-se detalhes em Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 211-213.
(38) Cf. Alister E. McGrath, A Vida de João Calvino, p. 211.
(39) Robert-M. Kingdon, Registres de La Compagnie dês Pasteurs de Genève au Tempos de Calvin, Genève: Librairie E. Droz, 1962, p. 62-63.
(40) Cf. Jean de Léry, Viagem à Terra do Brasil, 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, (1960), p. 51-52. Léry narra que “Ao receber as suas cartas e ouvir as notícias trazidas, a igreja de Genebra rendeu antes de mais nada graças ao Eterno pela dilatação do reino de Jesus Cristo em país tão longínquo, em terra estranha e entre um povo que ignorava inteiramente o verdadeiro Deus” (p. 51).
(41) Antes de aderir ao protestantismo era monge carmelita e doutor em teologia. Calvino achava que ele tinha algum problema no cérebro (Carta a Farel de 14/02/1558). Carta 2814. In: Herman J. Selderhuis, ed., Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, Vol. 17).
(42) Posteriormente Calvino demonstrou ter dúvida quanto à integridade de Chartier (Carta a Macarius de 15/03/1558). Carta 2833. In: Herman J. Selderhuis, ed., Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, Vol. 17). Macarius (pastor Jean Macard), no entanto, depois de investigar, atesta a fidelidade de Chartier (Cartas de Macarius a Calvino de 21/03/1558 e 27/03/1558). Cartas 2838 e 2841. In: Herman J. Selderhuis, ed., Calvini Opera Database 1.0, Netherlands: Instituut voor Reformatieonderzoek, 2005, Vol. 17).
(43) Robert-M. Kingdon, Registres de La Compagnie dês Pasteurs de Genève au Tempos de Calvin, Genève: Librairie E. Droz, 1962, p. 68.
(44) Vejam-se Frans L. Schalkwijk, O Brasil na Correspondência de Calvino. In: Fides Reformata, São Paulo: Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, IX/1 (2004) 101-128. Vejam-se também as explicações a respeito dos pseudônimos e fac-similes das respectivas assinaturas in: Emile Doumergue, Jean Calvin: Les hommes et les choses de son temps, Lausanne: Georges Bridel & Cie Editerurs, 1899, Vol. 1, p. 558-573 (Apêndice nº VIII).
(45) João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 2002, Vol. 3, (Sl 102.21), p. 581.
(46) Cf. John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. VII, (Is 2.4), p. 99. Do mesmo modo: John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), (Mq 4.3), p. 101.
(47) João Calvino, As Pastorais (1Tm 2.4), p. 60. Ver também: John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. XII, (Ez 18.23), p. 246-249.
(48) João Calvino, As Pastorais (1Tm 2.5), p. 62.
(49) John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. XVII, (Mt 28.19), p. 384.
(50) João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. 3, (III.9), p. 124.
(51) Ver: John Calvin, Commentary on the Prophet Micah. In: John Calvin Collection, [CD-ROM], (Albany, OR: Ages Software, 1998), (Mq 4.1-2), p. 101.
(52) João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, Vol. 3, (Sl 96.1), p. 514-515.
(53) João Calvino, As Institutas, São Paulo: Cultura Cristã, 1999, III.23.14.
(54) João Calvino, As Pastorais, (2Tm 2.25), p. 246-247.
(55) John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996 (Reprinted), Vol. VII, (Is 12.5), p. 403.
(56) Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo org. História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo: Paulus, 1995, p. 339. Do mesmo modo escreve Willemart: “Genebra torna-se o centro de formação dos pastores que serão enviados para todas as comunidades francesas e que permitirão a unidade da Igreja Evangélica Reformada” (Philippe Willemart, A Idade Média e a Renascença na literatura francesa, São Paulo: Annablume, 2000, p. 42).
(57) Daniel-Rops, A Igreja da Renascença e da Reforma: I. A reforma protestante, p. 414.
(58) Cf. Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, Santa Bárbara D’Oeste: SOCEP, 2001, p. 29.
(59) Apud Charles W. Baird, A Liturgia Reformada: Ensaio histórico, p. 30.
(60) Vejam-se: André Biéler, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, p. 28; Wilson C. Ferreira, Calvino: Vida, Influência e Teologia, p. 188-189.
(61) John Calvin, Golden Booklet of the True Christian Life, 6ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, p. 17.
(62) P. Schaff, The Creeds of Christendom, Vol. I, p. 445.